domingo, 4 de julho de 2010

(Silêncio)


Permanece o silêncio, na espera que alguma coisa menos dolorida chegue, enquanto ela cultiva o pensamento, o silêncio.

Costumava carregar litros de palavras, sempre algo a dizer, sempre alguma frase solta que salvasse alguns minutos da dor, hoje não há nem gota.

Estranhamente tem suas palavras esgotadas, seu rosto seco, e um coração que pulsa como qualquer outro. Como se não houvesse dor, aparentemente não há. Só um vazio, um amontoado de vazio e o silêncio.

Um pensamento confuso, cenas soltas, e não soube explicar o que via, nem mesmo entender o vazio que a tomava como fogo, só não queimava.

Tinha uma foto sob o travesseiro, e não o conhecia. Talvez fosse a única coisa que pensara e fizesse sentido, não o conhecia. E ficou ali diante do vazio, do silêncio e do não conhecimento, certa de que precisa se completar, gritar, o conhecer. Mas, nada fez, nem se queria fazer, não essa noite e nem nas próximas, havia cansaço. Contudo, havia o desejo dentro de todo aquele nada, um foco de sonho, alguma coisa como ‘eu preciso me completar, preciso gritar, preciso conhecê-lo’.

Entendeu que um foco de sonho era alguma coisa e que alguma coisa elimina o vazio, e de três desejos um já estava resolvido. Não haveria gritos hoje, nem sussurros, embora saiba que logo haverá, não há silêncio que dure tanto. Apenas sabia que não poderia conhecê-lo, e era isso que doía, não ter a certeza de que em algum lugar ele também estaria desejando à encontrar, sentia o gosto salgado, tinha um rosto molhado agora.

Ainda que houvesse o sonho, ainda que uma pitada de esperança. Havia um espaço vazio, o silêncio, o desconhecimento. E não se podia completar, não podia gritar, não podia conhecê-lo.

Enquanto ninguém entendia bem por que havia uma foto sob o travesseiro, nem por que ela desejava conhecê-lo, ela permanecia em silêncio, porque ninguém entenderia, nem mesmo ela estava certa do que a levava a querer isso, querer tanto encontrar aqueles olhos azuis.

Mas, os seus olhos castanhos brilhavam, desconfio que para a sua alma fosse vital encontrá-lo, e a esperança de que ele estivesse à sua procura a matinha viva.

(Silêncio)

O desejo de lhe encontrar acelera o coração dela. Talvez aquele da foto seja do tamanho do vazio contido na alma da moça de olhos castanhos. Talvez não seja ninguém.

(Silêncio)

Embora ainda se possa escutar o coração acelerado por aquele ninguém.


- Rafaela Alves.

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