sábado, 12 de maio de 2012

Da minha janela.




Quando eu era pequena e via minha mãe e tantas outras pessoas passando horas olhando pela janela, me perguntava o que chamava tanto assim a atenção para ficarem tanto tempo lá.
Perguntei uma vez para minha mãe e ela me respondeu: - Estou olhando o movimento filha.
Mas, eu ainda não entendia que movimento era esse, porque eu olhava pela janela e via a mesma rua, as mesmas casas, o mesmo pé de café beirando a janela do quarto da minha mãe.
Eu não sabia era que o movimento que minha mãe olhava, e talvez todas aquelas outras pessoas que também olhavam, era o movimento da vida. Não a mesma rua, nem as mesmas casas, o pé de café era sim o mesmo. Mas, a cada dia os pássaros que viriam a pousar nele eram outros, ou os mesmos cantando e dançando no ar de formas diferentes.
Um dia era de sol, outro de chuva, às vezes ventava frio e forte, às vezes era sereno e doce.
Entendi que a janela era a dos olhos, porque era preciso sentir-se na janela daquelas pessoas para entender o que viam.
Olhar através da janela não implica apenas em ver o que acontece ali fora, é ver o que acontece ali fora a partir do que se traz por dentro.
Hoje tenho outros olhos para a janela do quarto, e penso que minha mãe parava na janela para refletir o movimento da vida dela, nada tinha a ver com a rua, as casas, ou o pé de café. Mas, aqui da janela dá pra ver a água da chuva passando sobre a rua, o colorido das casas e os grãos de café se alternando em tons de vermelho e verde. Dá pra ver as montanhas, enormes rodeando a cidade, como se nos protegessem. Dá pra ver o céu azul e quando anoitece a lua nos presenteia com um clarão divino.
Então pensei que boa janela tem no meu quarto agora. Porque agora a janela fazia sentido para mim e me trazia uma paz de janela acolhedora.
Quantas tantas outras janelas existem por ai, acolhendo tantas outras pessoas nos seus pensares de vida, levando aquele movimento de fora pra dentro e recebendo do interior dos olhos atentos a luz que habita nessas almas.
Aprendi que para olhar através da janela do outro é preciso ter seus olhos, porque a janela dele faz sentido para ele e eu não posso impor o que vejo da minha janela, porque o movimento que se apresenta perante ele, pertence a ele, aos seus olhos, a sua alma. E eu aprendi que é preciso ter cuidado com a janela do outro, assim como cuido da minha janela. Porque ela é preciosa aos olhos de cada um.



Rafaela Alves.

Nenhum comentário:

Postar um comentário