quarta-feira, 13 de junho de 2012

Eis a morada de mim.



Aqui dentro existe espaço para diversas de mim morar.
Eu dançarina, eu cantora, eu pássaro, eu sereia.
Eu na ponta dos pés, eu descalço, eu de salto.
Eu de batom, eu de saia, eu de roupão.
Eu que ri, eu que chora.
Eu serena, eu explosiva, e
u dispersa, eu objetiva.
Eu de azul, de verde, de branco, de preto e de rosa.
Eu cansada, eu persistente.
Eu amorosa.
Eu que senta na beira do mar, eu que entra no chuveiro pra cantar.
Eu que conta um conto, eu que aumenta um ponto.
Eu silenciosa, eu cautelosa.
Eu que quer ser mãe, eu que não sabe se quer.
Eu indecisa, eu certeira.
Eu com lápis no olhos, eu com olhos apertados de sorriso.
Ah! Eu sorriso.
Eu meu próprio abrigo.

Rafaela Alves.


Acho que a privacidade do pensar é para deixar à vontade a mente que costuma inventar. Sem medo eu posso criar e recriar cenas que algum alguém poderia julgar, como certo ou errado, ou não julgar talvez.
Talvez sejamos escravos do mental, dessa moral limitadora dos horizontes da alma.
Como se eu fosse trancada dentro desse corpo, dessa cabeça, dura!
Ah! Mal sabem que não habito esse corpo!
Eu habito o Universo, que habita no infinito.
Ah! Dimensões e dimensões, e mares, e céus, e estrelas e jardins.
Com balões, com vestidos, com flores, com borboletas, Ah! Com pirilampos marinhos.
É preciso cuidar deste corpo, presente de Deus, mas é mais preciso cuidar da alma. Aprender a não mutilar nossas asas.
Onde foi que eu esqueci o pó de pirimpinpin?
Caiu da minha bolsa e eu perdi o poder de viajar no tempo e nas cores?
Então pra que servem fadas madrinhas com varas de condão se eu não posso vê-las?
Pra que pote de ouro no final do arco-íris, se já foram lá e não acharam nada?
Ah! Mal sabem eles que o pote de ouro é outro. E "vale mais do que ouro em pó" senhores e senhoras!
Vale mais do que zeros a direita na calculadora, vale até mais que diamante! Porque eu tenho a estranha mania de achar o diamante mais bonito interado na terra do que no pescoço.
Ver o ouro na pedra por dentre a água do rio, reluz mais do que no anel!
Ah! Mal sabem que valem mais!
Ainda não descobriram o valor do mundo além desse. E ainda não, que nem valor tem, de tão grandioso que é, valor é adjetivo pouco pra usar.
Quantas outras palavras tem pra usar? Melodias pra cantar? Flores para cheirar? Espíritos para amar?
Infinito, infinito, infinito, Universo.
Que eu seja sempre capaz de fugir daqui, pra ser eu ai.
Me limitaram no corpo para evoluir, mas me permitiram escapar de vez em sempre. Que bom que eu descobri a tempo.
Mental, mental, mental, Terra.
Me prendi em você, mas aqui bate um coração que é livre. Por isso me deixo voar de vez enquando.
Que bom né!
Aliás, palavras também são limitadoras. Melhor voar!
Só voando dá pra entender o que eu quis dizer sobre chegar lá.


Rafaela Alves.

sábado, 9 de junho de 2012


O dia estava indeciso. Sol, chuva, chuva e sol.
Eu estava cansada, cheia das correrias do dia, que sempre me consomem o olhar simples para as coisas.
Como Deus costuma ser sempre maior, pintou de frente pra minha janela um arco-íris enorme.
Ah! Eu sempre ouso em crer que o dia terminará silencioso e comum.
E lá de cima Ele não cansa em provar que cada dia é único e grandioso.
Deus coloriu no céu o arco-íris para unir em sorriso aqueles descrentes do divino que é viver.
As soluções moram no horizonte.
Rafaela Alves

Toda pequena gota carrega a sua grandeza.

Rafaela Alves.

Se os barcos navegam no mar levados pelo vento.
Abro os meus braços então.
Iansã me leva para o colo de Iemanjá.

Rafaela Alves.

Lá da janela.


Quando eu era pequena e via minha mãe e tantas outras pessoas passando horas olhando pela janela, me perguntava o que chamava tanto assim a atenção para ficarem tanto tempo lá.
Perguntei uma vez para minha mãe e ela me respondeu: - Estou olhando o movimento filha.
Mas, eu ainda não entendia que movimento era esse, porque eu olhava pela janela e via a mesma rua, as mesmas casas, o mesmo pé de café beirando a janela do quarto da minha mãe.
Eu não sabia era que o movimento que minha mãe olhava, e talvez todas aquelas outras pessoas que também olhavam, era o movimento da vida. Não a mesma rua, nem as mesmas casas, o pé de café era sim o mesmo. Mas, a cada dia os pássaros que viriam a pousar nele eram outros, ou os mesmos cantando e dançando no ar de formas diferentes.
Um dia era de sol, outro de chuva, às vezes ventava frio e forte, às vezes era sereno e doce.
Entendi que a janela era a dos olhos, porque era preciso sentir-se na janela daquelas pessoas para entender o que viam.
Olhar através da janela não implica apenas em ver o que acontece ali fora, é ver o que acontece ali fora a partir do que se traz por dentro.
Hoje tenho outros olhos para a janela do quarto, e penso que minha mãe parava na janela para refletir o movimento da vida dela, nada tinha a ver com a rua, as casas, ou o pé de café. Mas, aqui da janela dá pra ver a água da chuva passando sobre a rua, o colorido das casas e os grãos de café se alternando em tons de vermelho e verde. Dá pra ver as montanhas, enormes rodeando a cidade, como se nos protegessem. Dá pra ver o céu azul e quando anoitece a lua nos presenteia com um clarão divino.
Então pensei que boa janela tem no meu quarto agora. Porque agora a janela fazia sentido para mim e me trazia uma paz de janela acolhedora.
Quantas tantas outras janelas existem por ai, acolhendo tantas outras pessoas nos seus pensares de vida, levando aquele movimento de fora pra dentro e recebendo do interior dos olhos atentos a luz que habita nessas almas.
Aprendi que para olhar através da janela do outro é preciso ter seus olhos, porque a janela dele faz sentido para ele e eu não posso impor o que vejo da minha janela, porque o movimento que se apresenta perante ele, pertence a ele, aos seus olhos, a sua alma. E eu aprendi que é preciso ter cuidado com a janela do outro, assim como cuido da minha janela. Porque ela é preciosa aos olhos de cada um.

Rafaela Alves.